O CÉU
No céu das formigas folhas não entram,
nem aquelas avaras com garras cerradas,
nem ramas e pedaços de árvores, miúdos,
menos ainda aquelas lembranças arrastadas...
Fechadas as portas, formigas de fora
esperarão o dia seguinte, contritas,
não adianta o rugir de esporas,
assim é o ritual pós-vida...
No céu dos homens cofres não podem ser levados,
nem aqueles que só podem ser abertos após o féretro,
nem papéis avulsos, Títulos do Tesouro eivados
de negociatas, nem o ganho substancial por mérito...
Deus não aceita propina, (dizem os anjos),
retoma a posse das almas sem pagar nada,
se o morto é uma criança ou um marmanjo,
não importa, o que vale é a centelha recuperada...
Nem formigas e nem humanos recebem comenda
por terem vivido dentro dos parâmetros da bondade e da alegria;
o máximo que recebem é não serem punidos por contendas,
menos aqueles, poetas, que voltam para recitarem suas poesias...