COMO QUEM FIA

Escreva como se a vida fosse sempre novidade,

um embrulho achado na gaveta do armário,

estenda a mão se isso lhe parece bondade,

só não se esqueça que o tempo é binário...

É com duas pernas que se anda, (a não ser...),

o sol que vem de outros tempos já findos

aquece da mesma forma que o teu querer

faz quando abraça quem lá vem vindo...

Teça suas palavras com quem fia

a flor que emerge, desempregada,

cirza velhas palavras da poesia

que escreveste de madrugada,

faça como faz do ócio seu trabalho,

rompa o tratado com o duro arado...

Escreva como quem morre antiguidades,

como quem dá poder ao silencioso vento,

dure suas certezas como fossem verdades,

só não se esqueça de viver sempre a contento...