COMO MORREM OS POETAS

O poeta é igual a todos,

morre de alegria, morre louco,

afastado da família por anos à fio,

se joga, (peixe que pensa ser), no rio...

Vi um poeta morrer na cruz,

outro por ser apenas um ladrão,

tem um que pensava ser a luz

que traria a esta terra o perdão...

Encontro-os pelas ruas, alucinados,

conversando com folhas de um morno outono,

outros se transformam em concretos versos quebrados,

tem uns que se vão quando estão ainda na cama, com sono...

Os mais afoitos e aflitos vivem pelas ruas a gritar,

dizem que os quatro cavaleiros do apocalipse estão vindo,

que farão como Moisés, no inverno abrirão o mar,

que o novo mundo será como o Paraíso, lindo...

Um deles morreu em meus braços, sorrindo, de olhos abertos,

suas últimas palavras soaram Shakespeare, "ser ou não ser",

disse-me que o destino final dos homens é ainda incerto,

melhor se preparar escrevendo versos do que nada mais dizer...