O VELHO POETA

Quando fingires,

finja tão bem a tortos narizes,

represente de forma tão espetacular

que crerão no que queres a eles contar...

Faça gestos expositivos de tuas sensações,

se precisar rasgue as roupas, (apesar da inflação),

de a eles o motivo para abrirem os bolsos e os corações,

só não exponha a verdade absoluta do teu coração...

Ao recitares o poema de tua lavra,

conte-lhes que trabalhou anos à fio,

que no poema está o cerne de tua alma,

que teve insolação, que quase morreu de frio,

mas eis, diante deles, o som da fúria e da calma,

convide-os a atravessarem este seu inóspito rio...

Terminado o fingimento, o deslumbrante show,

retire-se para o banheiro publico, lave o rosto, a testa,

conte o que foi auferido, prepare-se para o próximo voo,

saia do personagem e no espelho veja, de novo, o velho poeta...