PALAVRAS DA MESMA POESIA
Estranhos somos aos juízes e senadores e deputados;
já não somos estranhos aos amigos e compadres e chegados,
que chegam e entram porta adentro trazendo notícias,
aquelas que falam de outros amigos mortos pela polícia,
aos que convivem com nossas crianças e trazem lucidez
ensinando-as sobre o que fazemos, o que cada um fez,
sobre o pão que a vizinha assou e nos trouxe um pedaço,
de como devemos envolver estendendo nossos braços...
Estranhos somos aos montantes desviados do dinheiro público,
já não somos estranhos aos que partem por mal súbito,
parentes, vizinhos, recém empossados pela pobreza,
nem somos desconhecidos aos que nos amam, com certeza,
menos seremos estranhos ao dividirmos um naco do pudim,
(cabe em nosso prato o que não te falta e nem falta faz à mim),
ainda somos os mesmos mesmo que mudanças digam que não,
que cresce o amor como árvore de sombra em cada coração...
O que nos causa estranheza é saber que ao homem rico a pobreza
é um mal a ser extirpado, mais estranho ainda é afiar a adaga fria
pretendendo eliminar da raça a parte sem os dons da nobreza
sem saber que somos todos nós, queiram ou não,
palavras da mesma poesia...