NÃO VIVA APENAS

Perambulo por todos os cantos oferecendo ao amor meu desprezo

Eu argumento com o tolo e perco tempo com os desocupados

Roubo a riqueza da lama, onde os porcos chafurdam e defecam

Até me esqueci de rimar, sigo adiante sem nada mais esperar

Todo o caminho que percorro é aquele que você não escolheria

Escondo-me dos bons e me cubro com a sombra do meu próprio eu

Sei que ganho mais com o mundo do que o mundo vai ganhar de mim

Não espero nada e sei que a água (sem gosto) é que mata a sede

Observe e aprenda, saiba tudo sobre como não ser, não fazer

Meu coração fala e sangra e explode em jorros de tagarelices

A ferida e o pus são remédios que abertos doem e ensinam

O sangue veneno que escorre, onde o meu mal corre solto

Veja pelos meus olhos e vai prefirir a abençoada cegueira

Faça logo uma cama e deite, não espere perdão ou gratidão

Seja minha consciência e a torturante culpa o consumirá

Ouça pelos meus ouvidos e aja sem moral ou retribuição

E se puder esquecer apague imediatamente da memória

Tantas coisas são ditas, poucas realmente dão sentido

A essa emaranhada trama que todos valorizam tanto

Esse viver que deriva de trabalho e sofrimento

No final a morte sempre é quem te ensina mais

Ela ri de ti e da tua ignorância explêndida

Faz uma manta tecida de tudo que você negou

Te ensina o gosto amargo de viver apenas

Esse viver pequeno, como se o tempo fosse teu amigo

Consumido pelas ninharias que escapam entre os dedos

Caiba dentro do seu mundo particular sem expandí-lo

Não conhece todas as flores do próprio jardim e quer

Mesmo assim colher as rosas do vizinho, seu mesquinho

Dê nome às suas qualidades e aos seus defeitos, recite

Para que te corrija o chicote e te afaguem os mimos

Experimente, arrisque, sofra, se alegre, não viva apenas

Anderson Roberto do Rosário
Enviado por Anderson Roberto do Rosário em 24/04/2018
Código do texto: T6318268
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