NÃO VIVA APENAS
Perambulo por todos os cantos oferecendo ao amor meu desprezo
Eu argumento com o tolo e perco tempo com os desocupados
Roubo a riqueza da lama, onde os porcos chafurdam e defecam
Até me esqueci de rimar, sigo adiante sem nada mais esperar
Todo o caminho que percorro é aquele que você não escolheria
Escondo-me dos bons e me cubro com a sombra do meu próprio eu
Sei que ganho mais com o mundo do que o mundo vai ganhar de mim
Não espero nada e sei que a água (sem gosto) é que mata a sede
Observe e aprenda, saiba tudo sobre como não ser, não fazer
Meu coração fala e sangra e explode em jorros de tagarelices
A ferida e o pus são remédios que abertos doem e ensinam
O sangue veneno que escorre, onde o meu mal corre solto
Veja pelos meus olhos e vai prefirir a abençoada cegueira
Faça logo uma cama e deite, não espere perdão ou gratidão
Seja minha consciência e a torturante culpa o consumirá
Ouça pelos meus ouvidos e aja sem moral ou retribuição
E se puder esquecer apague imediatamente da memória
Tantas coisas são ditas, poucas realmente dão sentido
A essa emaranhada trama que todos valorizam tanto
Esse viver que deriva de trabalho e sofrimento
No final a morte sempre é quem te ensina mais
Ela ri de ti e da tua ignorância explêndida
Faz uma manta tecida de tudo que você negou
Te ensina o gosto amargo de viver apenas
Esse viver pequeno, como se o tempo fosse teu amigo
Consumido pelas ninharias que escapam entre os dedos
Caiba dentro do seu mundo particular sem expandí-lo
Não conhece todas as flores do próprio jardim e quer
Mesmo assim colher as rosas do vizinho, seu mesquinho
Dê nome às suas qualidades e aos seus defeitos, recite
Para que te corrija o chicote e te afaguem os mimos
Experimente, arrisque, sofra, se alegre, não viva apenas