POR HORAS A FIO

Um dia ganhei um relógio

de ponteiros que iam para o mesmo lugar;

combinavam, como dois sócios,

daqui a pouco, onde iriam estar...

Quando um chegava o outro partia,

juntos repartiam o tempo igualmente;

se um parava por excesso de porfia

o outro, sem sentido, se sentia demente...

No pulso de quem trabalha a bater em portas,

na parede do salão da manicure, na igreja, no bar,

serviam ao retos e aos muitos de vida torta,

presentes na hora de quem foi se casar...

Esquecidos na gaveta por acaso ou descaso,

muitos viveram a eternidade do momento

e hoje, como ampulhetas sem areia nos braços,

vivem a inércia sem a regência do pai, o tempo...