ESTA POESIA

À Ísis

Quando me olho no espelho

procuro o outro - que não sou

entro dentro do que está lá fora

como se um morango virasse amora

e outra rua me chamasse para o que estou

procurando entre patifes e celebridades:

o máximo que encontro é faces dentro de faces

e uma outra sobre meu rosto - quase nova - nasce...

Sou a Rainha que espatifou xícaras durante a Revolução Francesa

o Rei que bebia demais e mandava cavalos ao Senado

no canto alto do vidro espelhado

vejo o Adão que fui - gordo

a comer pecados e arrotar virtudes

a discutir com Deus sobre como viveremos

com poucas posses e muitas armas

vejo o coelho correndo na rua

e nada mais é que minha alma nua

sem pelos e sem manto sagrado

então descubro Carl Gustav Jung

deitado no sofá da sala

a comer peixe frito - olhando para mim

e me chamando de esquisito...

Quebro o espelho

e me vejo face a face

com a face que escolhi usar para andar pelo mundo afora

máscara feita de giz e filosofia:

apago traços antigos

com esta poesia...