PELO MENOS...
Falar não é patrimônio da goela
e nem sai por aquela
novos testamentos
e novos pensamentos
se não vierem encharcados de barro e grama
a poesia não está à serviço de poetas de garagem
nem de poetas que pensam em deuses e se arrastam pelo chão
poesia é taturana dançando seu corpo mole na lama
é o canto da cigarra antes que alguém a pise
um trompete de isopor tocando a alma incolor
calar não é patrimônio do silêncio
assim - pelo menos
nunca o mundo ficará surdo
assim - pelo menos
canto esta canção cheia de colchetes
e canivetes nos bolsos
finjo que vou pela esquerda
apanho morangos mofados
ouço dizer que um cantor de blues
virá esta noite cantar
na nossa cidade...