O Valor sem medida.

Qual seria a graça dessa vida

Se fosse feita eternamente de certezas

E a gente tivesse a receita

E conhecesse o momento exato

da morte, do erro

e de encontrar o grande amor

Que um dia há de perder.

A mesa posta na hora certa

A resposta sempre positiva

Nenhum curativo ou corte do dedo

Aquela pessoa que deixou saudade

Ao morrer na infância da gente

Ainda está viva

O alívio imediato

Ausência do medo

Comida que a gente gosta

No prato de porcelana

O segredo da vida pintado

No óleo sobre tela

Pendurado na nossa parede

No gancho a rede

Lençóis de algodão egípcio

Seria muito bom no início

Mas que graça tem isso pra nós?

Se gente aprende muito mais

Devido ao amor fingido

A dúvida da falsa amizade

Na pergunta sem resposta

Presença muda

Olhar evasivo

A lágrima que ficou

A tristeza que invade

Chuva no final de tarde

Justamente

Quando era hora de voltar pra casa

Faz parar um pouco e lembrar

Que ninguém te espera

Me diz a graça que tem essa vida

A ser sempre um circo de feras

O pote de ouro

Dinheiro contado

Dois Sóis a brilhar de dia

A estrela

que havia na madrugada

Se apaga pra eternidade

A menor distância

Entre a dúvida

e a suposta verdade

O rosto escondido atrás das mãos

Toda a certeza que existiu na vida

A frágil alegria

Chega um dia em que nada é igual

Não passa de cristal que se quebrou

Qual seria a graça dessa espera

Se um dia

A gente não chegasse à conclusão

Que a própria vida em si

Não passou de mera ilusão?

Edson Ricardo Paiva