DEIXE ESTAR
Quando chegar, deixe entrar,
seja lá o que for,
a tia que veio de longe,
um indiscutível monge,
o sapo que estava no mato,
aquele susto, o rato,
a noticia de que chegou à Marte,
o pedreiro que veio consertar o desastre,
o papagaio fugitivo,
por uma fresta o inimigo,
deixe que entre o ar fresco,
a fumaça do mato seco,
que entrem os poemas desavisados,
os que estavam guardados,
a música da cigarra vadia,
a arte da vã poesia,
que entrem os policiais,
que procurem dentro dos matagais,
deixe entrar a mão que traz o aceno,
um abraço, um só, pelo menos,
depois se sinta preenchido
como azeitona num vidro,
espatife a vida antiga,
compre a briga,
entre você, agora,
no mundo que está lá fora
esperando você chegar
e de mansinho entrar...