HONRA E GLÓRIA

Soa o som dos clarins,

o poeta sobe ao pódium,

todo feliz por ser assim,

recebe a láurea a que foi agraciado,

um tonel de palavras em mel elaborado,

ovacionado pela platéia ensurdecedora

diz seu discurso escrito em noite invernal,

cita poetas vivos e mortos, em tom cerimonial,

lágrimas lhe vem aos olhos, é pura emoção,

fecha o discurso, leva a mão ao coração...

Tomba ali mesmo, pela comoção sofre um infarto,

rígido, estendido, aplaudem este seu último ato,

antes de ser poeta foi um aplaudido ator,

deliram ao vê-lo inerte, último estertor...

Os mais próximos percebem a morte ocorrida,

avisam a todos que o poeta se foi desta vida,

todos, comovidos, continuam aplaudindo

enquanto a alma do poeta continua subindo...

Terminado o evento e enterrado o poeta,

a brisa suave desliza sobre a avenida vazia,

ninguém repara num verso em revoada incerta,

que se gruda, como se tivesse mãos, na lápide fria...