Sonho de mar

Voltei do sonho ainda acordado

me deu saudades ao sentir o vento,

Na minha infância onde fui pescado

Numa rede cheia de sentimentos.

Nasci no mar na beira do penhasco

Entre as conchas marolas e igarapés

Prendi-me na proa escorreguei no casco

Agarrei bem fundo junto do arnez.

Meu medo era tanto que lancei a vela

No mar revolto em lugar do leme

Ao beber sedento a água salobra

Restou a sede salgada e perene.

Pois desde cedo fui jogado ao mar

E me dei conta que era bravio,

Contra a corrente tentei navegar

Nas fortes ondas foi pra mim sombrio.

Então percebi como de repente

O mar agitado

Era um mar de gente,

Com grossas correntes

Pés presos aos lastros

Pessoas eram mastros

Uns remos, outros lemes.

Uns poucos magros eram ventanias

Uns mortos vivos sangravam remadas,

Outros fugidos eram ousadias

Guiavam as catitas as mãos calejadas

Capitães forjados pela tirania

Tiravam crostas das velhas feridas,

Outros lançavam chicote nas costas

Rumando a nau de noite e de dia.

Quando a tormenta fustigava a alma

Sobre a defensa fundeava a quilha,

A bujarrona estufava o vento

Nos corações sobre a escotilha.

A terra à vista nunca era avistada

Mesmo a poucos palmos de distância,

Preso ao convés na vida escravizada

Adulto como a minha ignorância

A libertar o velho marinheiro

Me devolver de volta à infância.

David T Garcia
Enviado por David T Garcia em 08/04/2018
Reeditado em 08/04/2018
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