Sonho de mar
Voltei do sonho ainda acordado
me deu saudades ao sentir o vento,
Na minha infância onde fui pescado
Numa rede cheia de sentimentos.
Nasci no mar na beira do penhasco
Entre as conchas marolas e igarapés
Prendi-me na proa escorreguei no casco
Agarrei bem fundo junto do arnez.
Meu medo era tanto que lancei a vela
No mar revolto em lugar do leme
Ao beber sedento a água salobra
Restou a sede salgada e perene.
Pois desde cedo fui jogado ao mar
E me dei conta que era bravio,
Contra a corrente tentei navegar
Nas fortes ondas foi pra mim sombrio.
Então percebi como de repente
O mar agitado
Era um mar de gente,
Com grossas correntes
Pés presos aos lastros
Pessoas eram mastros
Uns remos, outros lemes.
Uns poucos magros eram ventanias
Uns mortos vivos sangravam remadas,
Outros fugidos eram ousadias
Guiavam as catitas as mãos calejadas
Capitães forjados pela tirania
Tiravam crostas das velhas feridas,
Outros lançavam chicote nas costas
Rumando a nau de noite e de dia.
Quando a tormenta fustigava a alma
Sobre a defensa fundeava a quilha,
A bujarrona estufava o vento
Nos corações sobre a escotilha.
A terra à vista nunca era avistada
Mesmo a poucos palmos de distância,
Preso ao convés na vida escravizada
Adulto como a minha ignorância
A libertar o velho marinheiro
Me devolver de volta à infância.