UM POETA FELIZ
Me contou um poeta, feliz,
que tem um liquidificador que mistura palavras
e, como quem tira ouro do nariz,
apanha poesias ainda quentes,
algumas em estado fervente,
seca-as ao sol de Setembro
estendidas no varal, penduradas;
a quem passa são estrelas
de brilho claro na madrugada,
centelhas da divina colmeia
pelo mel encharcadas...
Não o vejo desde a semana passada,
dizem que se jogou dentro do liquidificador,
virou poesia, aquelas todas enfeitadas
com sinapses de sonhos misturadas com amor...