MAGNIFÍCA POESIA

Cá estou, em andrajos,

rota poesia no chapéu do mago,

a lamber a terra em busca de minerais,

a lidar com palavras como com o feno os animais,

rouco, roufenho, olhos castanhos a mirar moinhos,

sólido como água líquida a cumprir os rituais

de bruxas e duendes e faunos e centauros,

com todas as coisas, com todas elas, sozinho,

sob a lua, Vênus, sob o sol ardente, claro...

Cá vou por entre prédios e ruínas patrióticas,

a contar os passos que dou como se música,

paro e borro o muro com versos diametrais,

nada peço e nada dou sem a graça divina,

alcanço o lugar onde o tempo para,

onde se cruzam planetas, numa esquina,

a música de sangue mancha a aurora boreal,

a fugir de esquecimentos e aleivosias,

eis-me aqui, frágil, terno, carne, animal,

a tecer a mais límpida e fugidía poesia,

leio o tratado de pruridos de cada ser letal,

sorvo a grandes goles a magnífica poesia...