FLORES LIGEIRAS

Em minha infância para-brisas,

onde tudo era limpo,

eu via nas calçadas,

crisântemos e para-lamas.

Eles brotavam e pareciam dizer,

não é preciso frear

ou pensar em para-choques.

No instante de seguir, siga.

Quando eu era menino,

onde tudo era limpo,

os crisântemos disparavam

( flor de dia curto,

morria depressa)

e eu seguia ligeiro.

Os meus olhos percorriam

as beiradas do bonde de Santo Amaro,

os jardins do aeroporto de Congonhas

e acelerava o resto.

ou talvez tudo já viesse acelerado

e os crisântemos apenas

sobrevoassem o bairro.

Não sei.

Ah, acho que os crisântemos

sempre estiveram mesmo fora de alcance.

e tudo ao meu redor era limpo,

a infância durou instantes.

Hoje não encontro crisântemos

em meu caminho.

Estranhamente amadurecido

Tenho meus cuidados,

imagino ver pelo chão,

medos e fungos frutificados.

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 02/04/2018
Reeditado em 25/10/2020
Código do texto: T6297186
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