QUANDO, COMO E PORQUE

Aqui, quando cheguei,

as pedras já existiam, os rios já cantavam,

os galhos já se debruçavam sobre a velha e poeirenta estrada,

eu era um choro distante nos confins do universo,

a me separar do cordão umbilical, o frio do mundo a me abraçar,

a me apartar da nau mais insensata, que varou a noite do corpo

para me trazer ao dia...

Aqui, quando já estou,

as pedras se reúnem e fazem catedrais, imensos castelos,

erguem muros e o coração do homem devora sua matéria,

o eco das almas que sussurram seus cânticos em trovoadas

me separa e me silencia, eu que canto e choro e grito e falo,

a abraçar as duas peças do meu compor, reinvento a epopeia

de um alguém sem nome e este canto prova sua alegoria...

Aqui, quando já parti,

as folhas secas dormem ao lado dos postes

que se apagaram na manhã, lento, o tempo discorda

dos apressados que atravessam as alamedas,

a música vem das estrelas que morreram e anuncia a explosão,

o tempo partiu numa carruagem em rumo indefinido,

os anjos jogam pedras na lagoa onde espia a sua face

descorada, o homem ainda sonha com os ventos

que o levem para longe do medo e do horror...