DIFERENTE E IGUAL

Vim como feitor mas fui escravo, sim senhor,

a dormir ao relento nos braços da lua,

a içar a alma rumo ao céu,

desvestida, nua,

pedindo amor...

Dizem que eu era semelhoso

ao que criava delícias sem nenhum estorvo,

mas caí na carroça que leva os homens às minas,

achei diamantes e brutas pedras,

errante, sem mapa, "só a sina!",

gritava na árvore, o corvo...

Vim para dormir ao lado dos peixes

e aprender a respirar dentro da mais clara água

que um ventre feminino pudesse armazenar,

mas eis-me aqui a despoluir o rio dos sonhos,

onde, um a um, meus versos ponho,

de algas, pérolas do fundo do meu mar...

Vim para ser diferente e igual

mas diferentemente e etc e tal

meu nome foi mudado no batismo,

nele estava o mais ardoroso bem

e o mais inconsequente mal,

conheci o voar da asa

e o mais profundo abismo...