Fadiga
Cansei da repetição!
Cansei das asperezas,
dos espinhos,
das agulhadas.
Desejo o frescor da brisa da manhã,
e a suavidade do voo das borboletas!
Cansei da pressa dos dias úteis,
da ansiedade e rigidez das horas.
Anseio pela quietude e
sabedoria dos hiatos,
pela trégua entre as diferenças que não se aceitam.
Cansei da animosidade,
das desconfianças,
dos “pitacos”,
das respostas prontas;
da acomodação dos inconsequentes
sugando tolerância, paciência,
iniciativa, esforço, boa vontade
e o fruto do trabalho do outro.
Cansei da ignorância,
do não olhar, não refletir e só seguir...
Anseio pela leveza de um olho no olho;
pelo pouso e decolagem
tranquila e segura,
no tempo do outro, no espaço do outro!
Cansei da impotência diante da má educação,
da arrogância, da fraqueza,
da hipocrisia, do egoísmo,
da mentira calculada,
da infantilidade boçal
dos que não são crianças.
Anseio pela leveza de um: bom dia!
Um cuidar da sua vida.
E só!
Cansei da verborreia!
dos complementos,
das orientações,
das manipulações
dos que sabem tudo;
dos que se sentem melhores,
donos da verdade.
Anseio pelos improvisos,
pelos inusitados,
pela curiosidade e encanto
dos que não sabem!
Cansei dos desencontros
dos conceitos, dos significados.
Anseio pelas metáforas!
Cansei das palavras certas,
do óbvio,
da mesmice.
Anseio pela espontaneidade
e leveza das entrelinhas!
Pela cantoria dos que desejam
e sonham!
Pela dança suave das palavras não ditas,
inspirando arte,
conhecimento,
generosidade,
e poesia...
Anseio pelos mistérios
das coisas que se tocam,
brilham, aquecem,
criam, se acarinham
e deixam marcas.