Vitupério
O maior mistério do futuro
É o não saber agora
Acerca do que tem possibilidade
De ocorrer amanhã.
Os erros estão para os humanos
Assim como a sede
Está para a água.
A tentação penetra
Com adaga de prata,
Só que a hemorragia é interna
E o homem é refém de tudo aquilo
Que ele finge não enxergar.
Todos dizem tanto
Porque a língua é mais rápida
Que o intestino,
E eu sou mais superficial
Que noventa por cento dos
Romances de hoje em dia,
E de sempre.
O amor teve um caso
Com a traição
No começo dos tempos
E é por isso que dificilmente
Se pode viver sem os dois
Em contato
Em conflito
Atrito do ser
Ou do sentir
Sou verme ou
Sou serpente
Peregrino que vaga carente.
Se exceção é com s ou com c
Eu desisto de entender,
Amizade é um bicho estranho
Ela morde depois de morta,
E quando é viva
Sabe fingir,
Por isso eu não tenho amigos
Os poucos que tinha, matei,
No sentido figurado, meu bem,
Facada eu não dou em ninguém.
No fim das contas,
A morte é uma metáfora
Relacionada com a pausa ou
Simplesmente a interrupção.
O fluxo contínuo e sem fim
Que é morrer,
A morte é breve intervalo
Eu mato amores
Morro de dores
E morro um pouquinho quando escrevo.
Morrer é divertido, afinal,
A menos que, de fato,
Leve a sério
Tudo o que você sempre
Lê no jornal.