Vitupério

O maior mistério do futuro

É o não saber agora

Acerca do que tem possibilidade

De ocorrer amanhã.

Os erros estão para os humanos

Assim como a sede

Está para a água.

A tentação penetra

Com adaga de prata,

Só que a hemorragia é interna

E o homem é refém de tudo aquilo

Que ele finge não enxergar.

Todos dizem tanto

Porque a língua é mais rápida

Que o intestino,

E eu sou mais superficial

Que noventa por cento dos

Romances de hoje em dia,

E de sempre.

O amor teve um caso

Com a traição

No começo dos tempos

E é por isso que dificilmente

Se pode viver sem os dois

Em contato

Em conflito

Atrito do ser

Ou do sentir

Sou verme ou

Sou serpente

Peregrino que vaga carente.

Se exceção é com s ou com c

Eu desisto de entender,

Amizade é um bicho estranho

Ela morde depois de morta,

E quando é viva

Sabe fingir,

Por isso eu não tenho amigos

Os poucos que tinha, matei,

No sentido figurado, meu bem,

Facada eu não dou em ninguém.

No fim das contas,

A morte é uma metáfora

Relacionada com a pausa ou

Simplesmente a interrupção.

O fluxo contínuo e sem fim

Que é morrer,

A morte é breve intervalo

Eu mato amores

Morro de dores

E morro um pouquinho quando escrevo.

Morrer é divertido, afinal,

A menos que, de fato,

Leve a sério

Tudo o que você sempre

Lê no jornal.

O Não Poeta
Enviado por O Não Poeta em 08/03/2018
Código do texto: T6274429
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