AMANHÃ, MUITO MAIS QUE HOJE...

Mais nu do que nunca fica o homem

ao descobrir mais outros pequenos segredos:

como se comportam as moléculas no verão,

como riem as nuvens quando choram,

como fazem os patos para rirem uns aos outros,

como a cura da cura está longe de se curar...

Eu, à beira do precipício,

espio as ruas sem sinais,

os segregados sem espaço,

as ruínas da guerra na Síria

por causa de um homem voraz,

o homem que estapeia a mulher,

o amigo que mata o amigo,

a criança no beco,

a mulher que reza o terço,

os animais com fome...

Mais vestido o homem está em sua amadura

de proteínas e carboidratos controlados,

mais nu se encontra seu peito sem ser blindado,

todo e qualquer sentimento está solto no vento,

mais a vida pede comprometimento e respeito,

olho a cidade e alguém está fazendo café...

Eu, mais solitário do que nunca,

toco a cítara e ando sobre o parapeito,

aprendi que não há saída na cidade dos homens,

toco o tambor do coração e não quero odiar ninguém,

poderia estar em Paris, New York, Amsterdã,

os dedos ainda são cinco e eu conto cédulas envelhecidas,

amanhã, se é que virá, não me trará ninguém de volta,

enrolo o cordão em torno do pião e acerto o alvo...