Mancha

A mistura de profundidade e vazio me fez pequeno

Pouco a pouco me embriagando no veneno

Que eu nem sabia correr na minha veia.

De tanto querer abraçar o mundo

Dei de cara no chão

E dele fiz meu colchão.

Achei tão confortável ficar inerte, estirado

Que acabei dormindo acordado

Num louco movimento parado.

Aprendi que viver sem destino

Não é diferente de viver controlado,

Talvez apenas mais extasiado.

E saindo de uma armadilha acabei caindo em outra,

E verdade seja dita, tenho medo de levantar

Sabe-se lá o que tem a me esperar.

Além disso tem tanta gente aqui no chão,

Se arrastando comigo nessa longa procissão

Que vai acabar igual pra todo mundo.

É minha idade? É por que não sou maduro?

É minha personalidade? Por eu ser tão inseguro?

É a minha formação? Pela mistura de controle e abandono?

É tudo mentira, tudo um grande engano.

Uma porca passada de pano

Numa mancha a muito seca.

Mancha envenenada

Que escorreu da veia cortada

Já derramou coagulada

Já cortou enfaixada

Sangrou curada

Sarou machucada.

Lavou manchada.

Gabriell Araujo
Enviado por Gabriell Araujo em 06/03/2018
Reeditado em 07/03/2018
Código do texto: T6272582
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