Mancha
A mistura de profundidade e vazio me fez pequeno
Pouco a pouco me embriagando no veneno
Que eu nem sabia correr na minha veia.
De tanto querer abraçar o mundo
Dei de cara no chão
E dele fiz meu colchão.
Achei tão confortável ficar inerte, estirado
Que acabei dormindo acordado
Num louco movimento parado.
Aprendi que viver sem destino
Não é diferente de viver controlado,
Talvez apenas mais extasiado.
E saindo de uma armadilha acabei caindo em outra,
E verdade seja dita, tenho medo de levantar
Sabe-se lá o que tem a me esperar.
Além disso tem tanta gente aqui no chão,
Se arrastando comigo nessa longa procissão
Que vai acabar igual pra todo mundo.
É minha idade? É por que não sou maduro?
É minha personalidade? Por eu ser tão inseguro?
É a minha formação? Pela mistura de controle e abandono?
É tudo mentira, tudo um grande engano.
Uma porca passada de pano
Numa mancha a muito seca.
Mancha envenenada
Que escorreu da veia cortada
Já derramou coagulada
Já cortou enfaixada
Sangrou curada
Sarou machucada.
Lavou manchada.