FAMÍLIA

Que bonito quando a família se fragmenta

e leva, cada parte, o sentido de totalidade.

Se tornam flores, pedras, raios de luz, planetas,

matéria viva, carne, caule, semente, polpa...

A matéria viva apreende o sentido de mutação,

ser a mesma coisa em outra, replicar, repetir,

refundar a gênese de si próprio, erguer seu farol,

ampliar seu olhar sobre a estrada no horizonte...

Repartida, a família refunda o conceito de união,

aproxima os pares consentidos ou recém aceitos,

e, ao mesmo tempo, perde o saber do significado

de primeira família, que surgiu na aurora do despertar...

Os liames permanecem vívidos a quem pressente,

sabe-se atado ao mesmo fio que teceu o espaço e o tempo,

que expandiu o primeiro ponto, curva e recurva a pedra,

a música das cordas que se distendem e dilatam a sinfonia...

A perda de unidade acelera a ferocidade dos animais

que se dizem únicos e sós, que uivam a própria ária,

tornam em castelo a campestre memória primitiva,

a arma em punho, a defesa do grão como propriedade...

O estouro do aço transformado em presilha,

a cratera que se abre sob os pés do feudo humano,

a resposta dada pela família que nunca se perdeu,

o selo rompido e a voz anunciando o clarão...