ESTRELA LUZIDIA
Procurou onde não devia,
achou o que não queria;
pensou ser o nicho do calor,
era só a pedra fria da dor...
A mão entra cega na cumbuca,
agarra o acaso pela nuca,
trás à tona o apanhado,
era só um mero punhado
de acontecimentos tardios:
quem tarde procura a luz
só encontra o brilho do frio...
Será sorte ou sábia escolha,
será dote que recebeu na bolha
dentro do ventre da mãe
ou alguns vem pro mundo
como solitários cães?
Na rua se vê o coxo e o ereto,
o rico e o pobre,
o ofertado e o discreto,
o sem rumo e o com Norte,
o mudo e o com poesia:
no fundo no fundo
o que vive a noite
e o que vive o dia...
Quando se cá chega
não se conhece a partida,
se espia pela nesga
o sem destino da vida,
anda erra vaga busca
a carruagem erguida,
lá no alto só corusca
a estrela mais luzidia
num luscar de repente:
se acreditar é ela que envia
o brilho pro coração da gente...