A VELA
(Cena de seres humanos que se exibem com a qualidade dos outros)
a) Vilson Dias Lima
A vela
Toda prosa
Ilumina o quarto pobre
Halo no corpo nobre
Da ninfa adormecida
Rival da lua ofendida
Ladra da luz enviada
Invadida pela fresta
Da janela entreaberta
A vela
No alto dos castiçais
Lacrimeja morosamente.
Tal qual falsa carpideira
Mal paga pra chorar
Acompanham a viúva
Chorosa lá no canto
Conformada pelos filhos
Companheiros amargurados
A vela
Toda soberba
Ostenta ao mundo
A luz enviada, envaidecida
Mudo o pavio vai definhando
A cera apressada a vida
Vão vingando
Da glória mal dividida
A vela não vela o seu fim.
Fortaleza, 25 de abril de 2007.