PELA JANELA DA ALMA
Soubesse o homem o caminho
não criaria becos e vielas,
nem viveria tão só, sozinho,
a espiar a vida pela janela...
Saberia que andaimes se partem
quando se busca no alto o ouro da ilusão,
saberia mais dar-se todo à arte,
princípio e precipício do seu coração...
O vejo, hoje, na mesma seara,
a inventar religiões e plantar igrejas;
desde que inventou um Deus, do nada,
esqueceu-se do principal, a natureza...
Perdido em sua vã consciência
estende o manto filosófico
para cobrir falhas que a ciência
explica já no primeiro tópico...
Cria impérios e sociedades sequiosas,
se putrefaz em armadilhas e concordatas,
acha que se redime em prosopopeica prosa,
assassina macacos, irmãos da mesma mata...
Não há espelho que mostre sua façanha,
deformar seu espírito e seu corpo, a máquina,
recria Lúcifer à moda de sua gana tacanha,
possuir do inventor sua humana tática...
Saída não há para tal animal de sua prisão,
nem mesmo Jung ou futuristas do supor,
somente a cova rasa a enterrar seu coração
que desdenhou do que chamamos de amor...