MANHÃ NO RIO DE JANEIRO
Os pés pousam no macio da relva matinal
gorjeios de metralhadoras passeiam pelo ar
turistas param - assaltados - no sinal
lá - distante - brinca de ondas o mar...
O céu - rubro de sangue infantil
derrama chuva e espalha lama
o bélico homem e seu fuzil
acende do terror a chama...
A bossa - que não é mais nova
sumiu no baladão e no funk
a prática da desova
é punk...
Jobim Vinícius Dolores
se mudaram para o céu de Manágua
compõem canções cheias de dores
algumas rescendem à mágoa...
O homem que governa
espia a cisterna
onde o povo foi jogado:
brancos negros amarelos
índios cafuzos e pardos
cova hodierna...
O sol espia os morros
e timidamente lança os braços
a abraçarem este Rio que pede socorro:
seus peixes estão - todos - abandonados...
Eu - que traço traços
e fio versos de compaixão
estendo - à moda do Redentor
um extenso abraço
e guardo todos no coração
com fé e amor...