A MAIS ANTIGA POESIA

Um dia,

quando não mais houver poesia,

cantaremos como galos, no amanhecer,

à espera da nova aurora,

num eterno refazer...

Subiremos no mais alto do cajueiro,

ao longe o céu desmaiará nos braços da rua,

cantaremos em dó, em ré, mas é em sol, primeiro,

de almas lavadas e repentinamente todas nuas...

Quem dera fosse o mundo uma oficina de reparos,

consertaríamos as pessoas com novas proposições,

bastaria, como um mágico, dar um pequeno estalo,

haveria risos e abraços vindo dos nossos corações...

Por enquanto lavamos as pétalas e sujos estão nossos quintais,

cumprimos nossa queda rumo a Hades sem nada de alegria,

por mais que queiramos, parecidos nunca somos com os animais,

mergulhamos nas palavras à procura da mais antiga poesia...