FIOS DE OURO

A nota do violoncelo

atravessa os Andes da memória,

a maciez daquele velho chinelo

do pé conta a história,

mesmo que não nos sintamos assim

a felicidade atravessa paredes,

revolve a terra do nosso jardim,

a nascente mata a nossa sede,

de repente o mundo contornos ganha,

o rio ganha vida e nos enche de peixes,

deixamos de ser só uma raça estranha

para sermos bem mais que enfeites,

nascemos de novo a cada dia

e morremos logo em seguida

como se uma nova poesia

apagasse a escrita antiga

que fez de nós os filhos do cosmos,

nos desse uma nova e saborosa vida...

Quieta está a velha e bela montanha,

mais calma ainda a pedra no chão,

a canção nasce de suas entranhas,

cabe ao homem bater forte o coração...

Na terra, ao lado de velhos utensílios,

refazemos sonhos com amor e alegria,

a mulher que amamos, nossos filhos,

a mão tece em fios de ouro a poesia...