Duras Culpas
Não sei dizer de modo explícito se um dia escreverei alegrias,
só pego esta caneta em angústia e treva.
imersa no desgosto ferve a argamassa que edifica meu viver
e constrói meu crescer diminuir.
as desventuras que me cicatrizam os cortes hemorrágicos erguem-me o corpo teso no nada
as ausências presentes queimam-me as entranhas todos os dias
rompi os laços das ilusões num certeiro devaneio que cega-me os sentidos,
planos amarrados agonizando em tremendo sufocar.
agonizo as duras culpas que não tenho
mas tenho que carregar feito estaca de brasa
torrando minhas costas tenazmente
estou por minha conta a lidar com as dores e marcas
se são estas as externas
nem vejo as de dentro
profundas e putrefeitas
sem cura, calma ou seitas
irei um dia libertar-me da penumbra?
quero vislumbrar
não sucumbir.