canto para minha morte
sua ausência
desenha
uma sombra
sobre a cama,
onde deito
esperando
minha morte
e eu sei
que ela vem,
ela me chega
todas
as noites
perto das três
e parte sempre
antes
das luzes
se acenderem,
há margaridas
murchas
em seus cabelos,
pinta
no meu rosto
um rastro
de sal,
come com
seus olhos
felinos
e insones
todos os afagos,
esvazia
de sentido
as ruas desertas,
as esquinas
tão duramente
cinzas
choram por você
então me veste
de retalhos,
fiapos
de névoa,
substâncias
alquímicas
que te amaldiçoam
e te procuram,
mas eu sei que
você vem,
eu sempre sei
nos ossos
quando
você vem,
abro as janelas
para ver
seus lábios
repartindo
um risco de riso
que talvez
também
te ilumine.
você, uma sombra
solitária
sobre a cama.