O milagre (Caris Garcia)
O Milagre
(Caris Garcia)
Os pulmões queimavam, vulcões em erupção
Podia sentir o sangue invadindo a garganta
Placas tectônicas em deslocamento, quase uma benção
Ecos longínquos bradavam: Levanta!
A dor era contínua, sem pausas entre as chibatadas
O osso já exposto, o sangue que coagulava ao sol quente
A rainha e sua própria espada ...
Apesar de tudo, ainda trazia lucidez, infelizmente...
A poeira fina que se acumulava
Os gemidos de dor da multidão que acompanhava cada nota
Como a emancipação de Campos que se desbrava
Sem mais caminhos, bússola ou rota
De uma orquestra de terror no espetáculo da vida...
Sentia que era chegado o momento
Sem remorsos passados nem a maçã mordida
A íris translúcida invocava aos ventos
Era preciso abandonar o corpo já surrado
A cadência frenética do carrasco sem piedade
No horizonte podia ver seus cavalos alados
Não pronunciou um único fonema... Lealdade!
O inimigo não mostrava cansaço nem misericórdia
E em apenas uma fração de segundo
O desfecho de toda a “COMOEDIA”
Entregou tudo que tinha, seu peculiar mundo
Suas misérias mais pérfidas...
Com o olhar perdoou abutres, discípulos e carrasco
Em pensamento pediu perdão pelas falhas que havia cometido
Lágrimas do oceano em um único frasco
Não havia compreensão, aos primitivos nada fazia sentido...
A liberdade da dor era tão agonizante
Que pulsando em ritmada pureza intensa se desfez
Lembrou dos círculos de Dante!
O brasão, a coroa de Reis!
A alma se livrou de toda a matéria pesada
Do casulo, a borboleta se fez livre
A paz reinou leve entre corpo e espírito
E o milagre desabrochou...A brisa murmurava: Respire...
Todas as mazelas haviam lhe abandonado
E a gota da misericórdia divina invadiu lhe a árvore interna em sua raiz mais profunda
E a folha, semente e flor renasceram...
O coração voltara a bater...
https://youtu.be/ZKiLJaCVUdY