BIPOLARIDADE POÉTICA
Outrora sim,outrora não
Me visto de um ódio
metodicamente gritante
quase que satânico
Vezes por outras,me cubro
de violência
como se eu fosse uma pintura
de Vladimirov
um disco do Rage Against The Machine
de tempos em tempos
me vejo em crises de vagabundagem erudita
e meus braços não parecem braços
parecem armas
parecem armas apontadas para mim
e nesses tempos desejo destruir todas
as indelicadezas do mundo
Outrora sim,outrora não
me cavo a sutileza do peito
me encontro nos poemas doces de poetas
ingleses ou angolanos
de tempos em tempos quero mudar
o mundo e as coisas
do jeito que o Belchior me aconselhou
quero viver em mim quero abraçar a chuva
e deitar na grama
quero rir para o mundo como se na Síria
os meninos só chorassem de contentamento
e é nesses tempos que eu me desfaço
que eu morro em mim que eu me anoiteço
que eu me adoeço
mas não me curo de mim eu não quero me
curar de mim
é que de tempos
em tempos eu me sinto em outro tempo
em outro mundo outro corpo em outro deus
Não vou à igreja
Não quero me curar de mim
mesmo que eu seja uma bomba
atômica / um Molotov de anjos rebeldes
em tudo isso que me cerca
não sou nenhum xamã de outro mundo
embora me sinta tão bruxa tão possuída
por Orixás
Eu sei que deus deve entender!