CARTA DE UM EX-SUICIDA

Chegar onde me encontro agora

Escapar do turbilhão que se mistura

Tristezas abertas, amores tortos e a hora

A hora em que eu bato e não abrem,

Em que caras se mostram como são

Rudeza e más ações viram pastagem;

Onde pastam bois sem modos

Onde doem as feridas e sangram

Onde o dia acaba e conto os mortos;

Mortos os segredos, a confiança

Sou prato cheio e lobos devoram,

Toda a ingênua confissão enche panças;

Em cada porto que ancorei me feri

Sangro ainda, fechado na concha,

Sinto a corda que ao pescoço adere;

A cadeira balança, a garganta seca

Simples um ato que porá fim a tudo

Ser o que não fui é o que agora assumo

Aceito dor, amor, cera e pavio da mesma vela