A poesia
A poesia flutua na criação
É por si só, intrínseca contemplação
Tão forte como toda oração que se faz a noite
Poesia é como pão
Sustenta o olhar esperançoso do poeta
É o âmago de alguém
Que procura em vão palavras precisas
E na procura derrama tanta intenção
Algumas suas
Outras de quem a encontra
Está no ar, na vida, em toda cantiga
No ócio e no trabalho
Na volta e na partida
Se não se chora a poesia, se não se ri
Se não se a vê nas estrelas, nas tortuosas linhas
É nos olhos da amada que se consente que esteja
Fica cada verso suspenso no beijo
No desejo, no afago, no abraço
Na pureza da lua e da criança
Ao meio-dia entre as pedras da rua
Anda desgarrada a poesia
Encalacrada nas pegadas de José e de Maria
Invisível quase sempre
Não aos olhos de um poeta João
Que a põe no prato
E a serve saborosa e quente
Retruca um doidivanas
Que não a vê e que não a sente
Impossível! Só se não for gente.