A FLOR DA VIDA

Em uma fenda entre dois edifícios

Sobrevive um gramado rasteiro

Maltratado pela liturgia urbana.

Nada nele floresce além de pneus,

Artefatos oxidados (já ruivos)

E estilhaços domésticos banhados

Pela urina ácida dos bêbados

Que frequentam a noite

D'outro lado da rua Antônio Dalmarco.

De minha janela, o estreito quintal

De casa alguma é o único

Cenário possível, enquanto exerço

Minha vizinhança passiva

Que implica em contemplar o dia alheio

Por ausência de fascínio pela própria realidade.

Neste pacato terreno inútil vejo nascidas

Por todo o seu interior, florzinhas

Amarelas como pequenos girassóis

Contrastando com as ordinárias raízes 

Do solo terroso.

E do miolo de pólen de uma das flores

Vi surgir e velozmente voar uma pétala.

Mas pétalas não voam por vontade própria,

Elas sequer possuem asas.

São apenas asas da flor, as pétalas.

Teria eu então descoberto

Uma nova espécie de pétala (voadora)

De inseto, de beleza?

A flor da vida, em meio aos destroços

Da vivência.

HenriqueBazzí
Enviado por HenriqueBazzí em 08/01/2018
Reeditado em 08/01/2018
Código do texto: T6220157
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