FÔRMA SEM FORMA
Nada me comove mais
Nesta fria manhã de setembro
Do que o diligente movimento apático
Das primeiras horas.
Nada é capaz
De me fazer adentrar o purgatório das palavras raras
Inutilizadas e esquecidas.
Nada me provoca o ímpeto irracional
De evoca-las
E extrair de suas polpas o puro suco
Das palavras já diluindo-se.
Ainda que titubeante tenha caminhado
Por sentir pesar o mundo em meus ombros parcos
Não desabo nem tomo equilíbrio.
Desaguo sem êxito.
Um rio pela fissura da represa
Esvaindo-se.
Até que escasso o açude
Onde pescara nuvens
E então desdenho oque incerto for.
Debruco-me avido sob o dia
Que se impõe sóbrio e antipático
Como uma imensa rocha disforme
A ser esculpida.