enfado
A idade traz consigo um afastamento
A percepção do tempo é um erro.
Projetar o futuro é o princípio de toda frustração
A nossa ruína reside na consciência perpétua.
Se não houvesse como pôr aos amanhãs a solução
Talvez o viver fosse mais simplista
E a esperança um riso certo.
Resta sempre no âmago um quê de não vivência
Num hoje que transcorre como todo ontem.
Ao fim da vida não entendemos muito mais do que entendíamos ao princípio.
Confiamos tanto na carne, nas entranhas, num eu que é tudo, menos nosso
E na sede de imortalidade, de transceder
Repetimos o mesmo verso tantas vezes lido
Mais uma voz na unicidade do que é só humano, apenas humano:
O pó que sempre é pó,
pó que não nasceu para ser pó,
pó que percebe-se pó,
pó da ruína,
a ruína mesma.
A percepção do tempo é um erro.
A esperança, um riso certo.