brasileira

dona Sônia enlouquecia
quando chegava em casa
e via
o shorts sujo de lama
porque o Omo tava caro.
eram dois pra cuidar,
pra alimentar,
e ela trabalhava de
costureira
perto de casa.

tinha a pensão do pai
que a ajudava.
o marido a deixou
no segundo aniversário
da segunda criança.
foi para algum
lugar
tentar recomeçar. talvez
para outro estado,
ela não sabia, e
tampouco se importava.

dona Sônia
ia à igreja
todo domingo.
suas orações
eram sempre
as mesmas.
precisava de forças
a cada dia,
e seus filhos não
podiam ter a sua
vida.
a escola era cara,
mas ela não
desistia. não baixava
a cabeça, a não ser
para prestar atenção
nos tecidos.
seus filhos precisavam
de boa educação, algo que
não teriam
pela rede pública.
na tevê as mesmas
palavras. diziam que
as passagens
iam aumentar, que uma
greve
começaria em breve.

dona Sônia tinha medo,
assim como as outras mães
de sua rua. mas ninguém
jamais a viu chorando,
sequer pedia ajuda,
nem mesmo quando
carregava as sacolas
das compras do mês.
ela ouvia que o governo
ia ajudar, e mesmo dizendo
não crer, tinha essa voz
interior
a aconselhando
ter paciência,
pois os dias bons
estão por vir.

pois os dias bons
estão por vir.
Cleber Junior
Enviado por Cleber Junior em 29/12/2017
Código do texto: T6211422
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