SINA
SINA
Alguém está caído,
prostrado, na solidão
de sua vil sina, na estrada
de chão deserta.
Alguém que dorme,
talvez dopado pelo excesso
de bebida alcoólica.
Alguém que não é mendigo
mas parece ser,
pelo que se vê de sua
roupa suja da poeira
que sobe no vento
como um redemoinho,
e depois desce ainda suja,
voltando a fazer parte
do corpo e veste sujos.
Na estrada de pouco
trânsito de veículos
e pedestres, margeada
pela vegetação poeirenta,
dorme um homem
de meia-idade, exposto
ao sol morno da tarde,
que agora queima pouco
o corpo andrajoso
que parece morto, mas
sua alma, aturando
a dura prova, não a vence,
e se entrega à vida carnal
quase mendiga, inerte
ali na beira da estrada.
A vida humana é feita
de vícios e defeitos,
enquanto a alma evolui
ainda impura. Só que, uma
vez ou outra, as virtudes
lhe realçam nos atos
simples. Lá se vão muitas
horas de um mesmo dia
que já anoiteceu ( e a cena
do homem alcoolizado
caído na beira da estrada
em sono profundo), continua
a mesma. A estrada de chão
está deserta. Até então,
ninguém passou por ali.
Nem de carro, nem de pé.
Parece que, pelo alto ruído
do ronco, ele não acorda
tão cedo. Algum parente
decerto, lhe procura em vão,
pois não sabe nem faz
a mínima ideia de onde
ele está. Entretanto,
apesar de sua alma ainda
não ter voltado ao corpo
adormecido, uma presença
amiga (como raio de sol
no ermo da estrada) está
junto dele, lhe doando
amparo e consolo espiritual:
o seu Anjo da Guarda.
Escritor Adilson Fontoura