Dois mil e dezessete
Eu vi a menina esperançosa trabalhar
Na sua arquitetura de sonhos
Eu vi vários planos, sendo gerados
Vi o mesmo par dançar junto e separado
Vi um futuro um tanto esperado
Que se fez presente indesejado
A dor e a lástima que, antes, não passavam
De demasiada felicidade
Eu vi horrores espalhados pelo mundo
Desastres naturais e bélicos
Bandeira erguida com sangue e restos humanos
Vi o ódio, habitando o olhar dos inescrupulosos
Ao arrancarem a vida de muitos
À custa da última palavra a ser dita
A tristeza, o padecimento e a saudade
De um tempo que não volta mais
Eu vi as mudanças, batendo à porta
Eu vi caixas embrulhadas
Com nomes do que carregavam
Vi despedidas, laços cativados há anos
Vi o conceito do verdadeiro e falso
No abraço nem tão apertado
Vi o adeus que soou e ecoou dentro do peito
Revelado nos corpos entrelaçados
Eu vi rostos novos, mas nem tão novos assim
Eu vi criança, adulto, velho,
Preto e branco nem um pouco a fim
Dessa vida que, às vezes, teima
Em ser injusta
E só faz caber amargura
Por não libertar o que há de mais bonito
Em você e em mim
Eu vi rico e pobre
Em uma mesma calçada
Enquanto um escolhia
Na vitrine, seu vigésimo sapato
O outro, estava lá
Chorando migalha
Eu vi a brisa, o vento, a paisagem
De um mar infinito
Senti a alma mais leve
A alegria chegar enfim
Como se estivesse em um cenário de filme
A disputar o Oscar no fim
Eu vi a parte mais bela
A mais feia não deixou de existir
E, talvez, o talvez mais sufocante
Decidiu perambular por cada pensamento assim
Eu vi o tempo passar pelas frestas e penumbras
Fazer a efemeridade ser moradora
De qualquer cidade imaginável
Eu vi o sentimento, antes, perene
Ser uma coisa comum, mas não infindável
Vi linhas cruzadas, inconstantes e bambas
De casos remotos não tão resolvidos
É o tempo, é o espaço
O tanto que há em mim