O PALHAÇO NECESSÁRIO
Inutilidade lapidada
Por excelência
Não oferece consolo
Acalanto
Não embala tua criança no colo
É mais rude o seu canto
De encanto
Ou desencanto.
A poesia
Um legítimo escândalo
Incêndio de espanto
Não cura a ferida
Nem cala teu pranto.
Mas o alegra
Se por agora
Deres ouvido ao que está soprando
Na boca do mundo
O seu verso
Fora do mercado e das formas
Premeditadas de se obter sucesso.
Pois o louco poeta
Como todo louco
Com a bolsa não flerta
Quer o logro
Outro
O do sorriso sincero
Que a alto custo
No rosto do seu povo tem se aberto
Já que o poeta está para o mundo
Como um palhaço está para o circo:
Sofrendo tombos
Engodos
Para que o amanhã seja possível
E que o latifúndio circense da vida
Não cesse esta chama ávida
Chamada: vida!
(Que sobrevivente a tudo ilumina)
Sem os merecidos aplausos
(De vitória? De conquista?)
Aplausos ilhanos
Dignamente anunciando
O fechar das cortinas.