PALAVRAS SEM PALAVRA

Todo dia procuro por um poema

que alguém tenha perdido,

caído do bolso,

versos esfiapados,

memórias de tempos tão antigos

que Judas o teria lido na Santa Ceia,

que ultrapasse todas as medidas terrenas,

sabe daqueles poemas que te desmaiam?

O que encontro são palavras sem modos,

que riem como elásticos frouxos,

se juntam para conjurar maldições,

acendem fogueiras e queimam retratos de mulheres,

loucas, sem dentes, palavras sem palavra,

tento apanhá-las, como um caçador de borboletas,

sabe aquelas palavras que nascem e morrem nuas?

O que tenho achado está aqui,

neste relato sem ponto e vírgula,

palavras de ontem e servem

ao hoje do hoje...