QUANDO

Quando olho para mim aquela rua sem saída...

quando me deparo com minhas mãos a lua no condomínio fechado...

quando bebo no boteco a enchente no morro...

quando digo que amo os cães que latem nos portões...

quando choro a mãe com o bebê no colo no posto de saúde...

quando finjo o jornal aberto no caderno de política...

quando atiro pedras o barulho da sirene me alcança...

quando dobro à esquerda os homens direitos me espiam...

quando passo a mão num biscoito coitado, vai morrer logo...

quando espio a esperança passar a moça de saia justa e sonhos...

quando careço de afeto a janela aberta e a luz acesa...

quando canto o hino o choro vem de lá daqui de lá...

quando acordo o trem partiu de madrugada...

quando aceno para o homem que passa vai começar a sessão...

quando escuto a canção no rádio meu coração agradece...

quando me levo para passear a árvore ri e joga frutos...

quando perco de me perder meu pai e minha mãe abraçados...

quando escrevo um poema esse tremor nas pernas...

quando leio e gosto círculos que se entrelaçam...

quando oro penso em você...