O REI
Ser Rei sonhei e fui,
rebelde, dado a arrotos;
todo Rei, sei, um dia rui
e tudo de si, nu, fica exposto...
Ordens dei e matar mandei,
previ guerras e enchentes,
cestas básicas sei, doei,
a famintos com poucos
e a alguns, sem dentes...
À Rainha, bela, vestida, só minha,
ordenei que fosse servida com devoção;
todo Rei que se preza, além da coroinha,
possui o dom do amor em seu coração...
Dado à loucuras pus asnos como ministros,
fiz um palácio maior que o maior palácio
já visto, um trono como nunca antes previsto,
o que parecia ser difícil a mim parecia fácil,
odiado por muitos e por alguns benquisto...
Como todo reino vai ao topo e depois decai
o meu, salvo dizeres de profetizas e alguns sinais,
sobreviveu à guerras e pragas e golpes ministeriais,
perdeu uns poucos da família real e alguns parentes:
todo Rei que reina de fato perde a voz e não os dentes...
Se fui bom, mau, apenas o suficiente para reinar,
saberei depois, nos braços de Deus, a mirar meu rosto;
sei que comi bem, amei muito, mandei, abri o mar,
apenas ouço a turba a gritar pois já estou morto...