NO SUPERMERCADO

A mulher, com a filha pequena no carrinho,

escolhe latas no supermercado,

quando passa pelo homem.

Foram anos de estudo

suspeitas e dúvidas,

para chegarem a presença súbita

de um olhar recíproco,

sem sequelas.

A mulher não percebe

o denso contato que provou,

mas já está longe

de qualquer alcance;

está livre para seguir,

escolher o vinagre

que cortará o gosto da carne do jantar;

comprar a gilete do marido

que cortará a sua carne branca;

comer o doce no café

sem conhecer bem

a cria daquele contato visual;

chamam “laço oculto”.

O laço oculto do estímulo

alisa o bom senso da mulher,

sem se deixar notar

e prontamente se desfez em um transe

que penetrou as compras.

O laço também se rompeu no homem.

Havia nele a inocência funcional do brusco.

E mesmo assim,

carrinhos vazios lotavam os corredores.

Do meu livro:"ADVERSOS E OUTROS MOMENTOS"

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 11/11/2017
Reeditado em 18/02/2020
Código do texto: T6168491
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