O ESCREVINHADOR

O louco olha pela fechadura e vê a nesga de algo na mirada

o normal enfia a chave e abre a porta e vê do tudo o nada

sabe que o mundo está construindo seu fim

sabe que a loucura é o frescor do jasmim

sabe que os ditadores ditam dores

que os humanistas dão pistas

do fim da raça

o louco espatifa seus neurônios

o normal acha graça...

O poeta diante da escrivaninha escreve sobre ervas daninhas

o muito rico com seu penico

de ouro

a riqueza sem decoro

o pobre com seu gesto nobre

de dividir o grão de sua miséria

o escritor bem sucedido

em Noronha

escreve seu próximo livro

e a lagosta come...

O miúdo apostador em versos de sensitiva alma

descreve como a calma

o assentou no mundo

como consegue ver o fundo

da poesia

quando lava suas mãos sujas de palavras

na pia...