A NOVA POESIA

A nova poesia deve ter pernas tortas

para se desviar de balaços da antiga escrita,

deve cultivar palavras verdes na horta,

fugir da herança de ser a arte maldita,

com seus dedos frágeis abrir a comporta,

tornar-se mais bela que a palavra bonita...

A nova poesia deve carregar o planeta ainda vivo,

replantá-lo em um lugar tão belo como o de agora,

não importa se perdê-lo no meio da plantação de trigo,

o zelo será a última querência guardada na memória,

pulsante, quente, verde, pleno, aquoso, cá comigo

tralo-ei suavemente em minhas pequeninas histórias...

A nova poesia será tão feliz quanto humildemente barroca,

vestígios de renascenças vertiginosas, pinceladas ternas,

corpo de ventríloquo em palco de terra sem petróleo, oca,

lerá os versos de atômicas senhas na boca da cisterna,

será chamada de a cura de todas as outras poesias, loucas,

descerá mansamente sobre restantes raças, será eterna...