PRESENTES
Quando nasci tinha meus braços
para alcançar o que caía,
o que estava no alto,
para acenar, dar adeus
a quem partia,
dizer que ia ficar, aos meus,
mover montanhas e apanhar flores,
escrever versos e fazer a pessoa amada
morrer de amores...
Mal sabia que as asas sairiam, soberbas,
poderia voar sobre as cercas,
planar sobre imensas catedrais,
elevar a alma até o Olimpo,
tornar-me, eu que fui
esquisito na escola,
evolar com a luz que flui,
fugir do tiro da pistola,
ser, aos poucos,
mais que sábio,
louco que a loucura rui...
A mente poderosa que ganhamos de presente,
como fôssemos crianças eternas em aniversário,
nos tornou mais que seres, mais que entes,
a oração dos deuses diante do sacrário,
anulou o tempo e fez-nos, de repente,
a emanação daquele do santo sudário,
pôs-nos diante de cada molécula vivente,
para sempre, por agora, por séculos vários...