A MESMA POESIA

A palavra feia

procurou a palavra bonita

e lhe perguntou como era vida

sem as ranhuras

da palavra estética

em que até a pronuncia

é peripatética...

A bonita disse em tom jocoso

que a feiura é um dom maligno

que algum anjo de preto e fosco

deu para alguém num ato cínico...

A feia nem riu e nem chorou

menos ainda sem pôs em defensiva

ereta em sua estatura falou

que qualquer presente

é benção bendita...

Ambas prosearam indefinidamente

até que a tempestade de vento

assolasse o lugar fustigadamente

por um bom e precioso tempo...

Passado o ato de desconforto

em que ficaram iguais como teia que a aranha fia

olharam-se e cada uma tinha o mesmo rosto

como dois poetas que escrevem a mesma poesia...